quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O Cometa


Certa vez, um cometa passou.
Não como qualquer outro, este perdurou.
Visível mesmo perante a luz do Sol,
Rubro como sangue, cortava o céu.
Sua passagem durou minutos.
Horas? Não...
Dias.

Tarquínio não se espantou,
Era um presente dos deuses!
Haviam recompensado-o por sua excelência,
Nada além do merecido.

Charles se assustou,
Era um mau presságio!
Arrependeu-se de ter matado a garota,
Sua sina estava a caminho.

Orfeu se inspirou,
Havia lá muita arte!
Devia escrever uma canção,
Sua emoção seria apreciada.

Ester se entristeceu,
Partia ali sua querida mãe!
Não soube dizer se tinha aproveitado,
Vidas vêm e vidas vão.

Martim se determinou,
Tinha à sua frente um exemplo!
Como o cometa, seguiria adiante,
Somente se anda caminhando.

Muitos outros o observaram partir,
Cada um, um significado.
Sorrisos se abriram, lágrimas tristes caíram,
Vidas mudaram, sim.
Tanta capacidade em uma simples imagem...
No entanto, ninguém percebeu a única certeza:
Era somente um cometa, passando...


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Dança das Sereias


Vamos assistir,
A dança das sereias.
Lá, longe no oceano,
Estamos aqui, na areia. 

Volte, lute, não me escute!
Eu preciso de você, senhorita 
Não me perca de vista.

O inferno nos abraça,
A caída de todos está próxima,
Não se importe com porra nenhuma
Até o céu nos amassa. 

Já estava na hora,
Ela gritava por mim,
Eu escutei o seu choro,
Vamos agora.

Encostei meu pé no oceano,
Devo mergulhar?
Mergulhar? Já estou nele,
Vou afundar.

Ali está a sereia,
Sorrindo para mim. 
Ela conseguiu o que queria,
Estou no começo do fim. 
segunda-feira, 27 de outubro de 2014

SOBRE PÓ


Dos pés ao horizonte, somente grãos.
Pintando o céu, alguns mais distantes.
A fumaça do acabado subindo;
Sua vida, a única visível.

De repente, a areia se move.

As pernas vazias levam o mundo pra trás,
A mente cheia leva as pernas à frente.
O mundo o move? Ou move ele o mundo?
Atrás de si, porém, nem pegadas.

De súbito, a luz lhe enche os olhos.

O vento são sussurros, calmos.
O ar irriga seus secos pulmões.
Os infinitos caminhos, enfim iluminados,
"Levam todos ao mesmo lugar?".

Num instante, para.

O tempo não passa.
Os grãos do céu, porém, logo voltam.
Os líquidos de ontem, hoje vapores,
Escurecem sua visão perdida.

Abre então os olhos, e recomeça.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Navegantes



Sentado nas rochas caídas
Vejo o poente fechar descontínuo
Do sangue vermelho no fundo 
Ao preto, ofuscaste a vida

Olho o velejar pelo mar
Ao encontro do horizonte 
Para frente, tudo já se passou 
Está liberto ou preso? 

Preso pela maré, 
Aceitou o gosto da água. 
Marinheiro sem bússola.

Serena, ela espera no poente
Dar calor ao frio estridente 
Sobre os Sete, nunca ausente.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Decisão


A arma está apontada
Seguramos o mundo,
Antes de apertar o gatilho.

Eu não posso gritar,
A lágrima ardente já virou rotina,
Tudo estagnou!

Quem vai apertá-lo?
Vai me ajudar a puxá-lo? 
Vai tirar da minha mão?

Ajude o sem esperança,
Deitado no canto,
Aparte do mundo.

Hoje lutaremos pela vida.
E outro dia viveremos.
Vamos, o fim está perdido.

Tentamos não afogar,
Mas como é difícil.
A verdade está a frente...
Não abra os olhos.

O Amor morreu,
Homens tentam ressuscitá-lo.
Busca perdida para o Fim.
O Fim não é a felicidade.

Dê-me uma razão para matar,
Dê um sentido para fugir.
Encarar a porra da sua hipocrisia,
Estamos perto do precipício.

Está vendo o trono de ouro a frente?
Eu o fiz.
Estava nele, mas levantei.
Você já saiu do seu?

Tire a faca do meu peito,
A temporada de caça já passou.
Os lobos estão rodeando,
Esta é a vez deles.

Oceano de Ossos


Olhemos para este nada
Tranquilidade frustante

Pensamentos transbordando
Mas não preciso pensar

Cadeia de devaneios
Sou... sou-lhe seu oceano

E sou brisa que gela, a alma
Que tenta se manter quente

Imensidão depressiva
Preso por olhar o nada

Amor, vida, tentaremos?
És isto pura verdade?

Este vento que carrega,
Todas minha incertezas

Não correremos agora
Finalmente já é noite.  

Ponto Final


Chega de reticências: ponto final.
Se não dá pra ser tudo, então que seja nada.
Cada um prossiga na sua estrada
Até que a dor seja, talvez, fatal. 

     Autoria de Marli Fiorentin
Blog: Varal de Poesia
quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Obliterach


Pântanos passam, o gotejo à liberdade
Transfigura-se a lua, por entre as nuvens pálidas,
O desespero despejado cobre a lágrima
Desce ela, pela luz, abraçado ao seu nada

Minha tristeza de bom grado... vazio inerte
Menina, aquele sangue é seu, tire-o da escada
O orvalho escorre nos lábios, vós enxergardes 
Grilhões no oceano param a nossa maré

Amanhecer está fora, mas névoa adentro
Vós com medo de nadar? Fá-lo-ia se soubesse
O chão de folhas já não nos aguenta mais
E somos cobertos com nossa própria brisa

A maré... vós obliterardes, eu oblitero
Alcançaria meu fim, a mata ou minha areia
Mas estou farto de tentar nadar, se o fiz...
Até o chamado das sereias, ficarei na água.

Placidez


O céu esplêndido, azul,
Que engloba o Sol poderoso
O Sol, teimoso, brilha atrás dos prédios

A noite calma, anil e pura
Que absorve a Lua pacífica
A Lua brilha, e enaltece a noite escura

As nuvens alvas, formosas,
Transcendem a luz do Universo
Nuvens pomposas, me fazem querê-la perto

Queria eu estar no Ipiranga,
E não bradar nada às suas margens
Estas, acredite, são melhores plácidas
segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Um ano


Virada do século em um ano
E o bater de asas da borboleta fez ventar
Dominós insanos, indômitos, caem

Cata, ana, metabolismo humano
Pega, anda, metalinguagem eufônica
Um ano tem metas pacatas e bacanas

Incêndios e enchentes em um ano
Um ano pobre, sem plano, sem data
Um ano seco, inconstante e redundante

Ora! 
Parece doença, mas é somente a realidade
"Você sofre de Machadismo Agudo Crônico"
"Há algo a se fazer, Doutor?"
"Espere um ano e idade passar, quem sabe resolve..."
sábado, 4 de outubro de 2014

Choro de Sereia


Cálida, espera a brisa
Vento onírico do mar
Leva a vida, acalma-te 
Não há pressa com tempo

A dança das ondas
O inquietar das gramas 
Estamos rodeados... dancemos 
Temos até o fim da chama

Dama, vai caminhar comigo? 
Nós estamos sozinhos, sabia? 
Podemos andar na areia
Seguirmos para o horizonte 

Chegaremos no crepúsculo
Mostre-me sua vida
Eu mostro todo o fim
Parvidade, enfim, aparente

Senhorita, passe-me as chaves
Eu aceito sua vontade
As ondas já se abriram
Meu mar já fechou